Eu senti hoje uma sensação. Tranquilidade, sossego,
serenidade, paz. Percebi creio que pela primeira vez, que o sentido da vida é
uma sensação. Uma certeza, diria, se é que esta palavra não estivesse
contaminada por um uso que a associa a convicção, crença.
Quando eu digo que o sentido da vida é para mim uma
sensação, um sentimento, uma certeza, estou aludindo a algo que meu coração
sente, meu corpo sabe, minha compreensão intui sabiamente.
Sabedoria é para mim um conhecimento integral. Contêm uma
intersecção de outros saberes além do racional que, como é sabido, por sua vez
contêm várias modalidades (conceitual ou lógico, poético, sensível,
filosófico).
Estas sensações e sentimentos me vieram esta manhã de 20 de
dezembro de 2020, enquanto indagava para mim mesmo sobre Sentido e Significado.
Sentidos, no plural. Qual o sentido de sentir. Qual o sentido de viver? Qual o
sentido de amar?
Acredito que a busca pelo sentido nos traz para o mundo do
corpo, o mundo físico, relacional, material, social. A busca pelo sentido nos
traz para a vida em toda a sua complexa e integrada multidimensionalidade, que
venho tentando explorar e conhecer experimentalmente desde há tempos.
Os dias de hoje parecem ser bastante avessos à busca do
sentido. A busca de sentidos pareceria ser ofício de diletantes. Nada mais
contrário à verdade. Quem não se ocupa em saber o que sente e o sentido do que
é e faz, muito provavelmente apenas esteja vegetando. Alguém conduz a sua vida.
Alguém pensa e sente por você, cordeirinho, cordeirinha rumo ao matadouro.
E por falar em morte e ameaças de morte, não posso deixar de
sentir uma profunda tristeza em ver o país que me acolheu --como acolheu inúmeras
outras pessoas oriundas da Argentina quando o eu país estava mergulhado no
genocídio da ditadura de Videla—submetido a um regime ilegal, ilegítimo,
inconstitucional. Nada vale a vida para o atual desgoverno.
Resta saber se nós ainda estamos dispostos, dispostas, a
recuperar o Brasil para a civilização, para o regime constitucional, para a
vigência irrestrita dos Direitos Humanos, ou ao contrário, se iremos fechar os
olhos e deixar que se repita mais um genocídio. Os nossos filhos, filhas, netos
e netas irão querer saber de que lado estivemos.
Saber, sentir. Isto é o que nos potencia para a vida. Basta
de intoxicações da imbecilidade que se espalha pelas ditas redes sociais,
vomitórios da desistência e da desconsciência!