segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Voltando

Ontem à noite, andando pela beira-mar com a minha esposa, encontramos um velho amigo, um médico sanitarista com quem, há cerca de 10 anos atrás, fizemos juntos, uns trabalhos de saúde mental comunitária no município de Cabedelo. Entre outros assuntos, a conversa veio para o Papa Francisco.

Este amigo nosso, que hoje se dedica a cuidar da saúde das populações indígenas no estado do Amazonas, em condições dificílimas, disse que o atual Papa trouxe de volta o Evangelho para dentro da Igreja Católica.

Agora volto sobre esta frase, uma vez que ela me faz refletir sobre algo que até agora nunca disse em público, e que me parece necessário dizer. Não acredito que o Evangelho de Jesus Cristo, nem que Jesus Cristo ele próprio, sejam propriedade de alguém, um grupo, uma instituição.

Mas não era isto que queria dizer. O que quero dizer, é isto. Que creio que os cristãos ou os que intentamos seguir Jesus Cristo e viver o Evangelho, não somos pessoas melhores do que as outras.

Ao contrário, em algum sentido, somos pessoas que confessam, ao atender ao chamado de Jesus, a nossa própria indigência, a nossa necessidade de sermos apoiados e guiados pelo próprio Deus feito homem, para que possamos andar no bom caminho.

Talvez o que estou dizendo seja algo banal, mas acho que não. Acredito que, como seres humanos, precisamos sempre uns dos outros para que, entre todos, possamos ir construindo caminhos de bem, de verdade, de amor e de justiça.

Lembro que, na Terapia Comunitária Integrativa, frequentemente se diz que “Deus age humanamente no mundo humano”. Isto quer dizer que necessitamos uns dos outros para acertar no que seja justo.

Ninguém pode se isolar dos demais e dizer: Deus me disse o que é a verdade. A verdade é feita entre nós, entre os seres humanos. É uma construção coletiva. Mas esta coletividade ou socialidade ou caráter comunitário do agir humano, não garante que estejamos sempre a andar pelo bom caminho.

Podemos errar juntos, também. Ninguém está isento disto. O que estou querendo frisar aqui, é que a necessária socialidade do nosso ser e existir em sociedade, deve nos fazer permanecer abertos ao que vemos ao nosso lado, ao que acontece com os vizinhos, com as pessoas da própria família, com os amigos e conhecidos.

Ninguém está isento de errar. Quando digo, como estou dizendo aqui, que o fato de sermos cristãos ou de sermos pessoas que intentam seguir Jesus, revela a nossa indigência e a nossa incapacidade de, sozinhos, acertarmos com o bom caminho, estou dizendo que isto deveria nos fazer mais humildes, menos auto-suficientes.

Somos criaturas efêmeras, conquanto alguns de nós consigam viver muitos anos. Mas esses anos vividos, que sejam em conexão com o mistério e o milagre que nos faz estar aqui. Que não nos percamos no intelectualismo enganoso, que nos afasta de nós mesmos e dos demais, do mundo.

Aprendamos a agradecer a vida que nos foi dada, sem indagar sobre questões inúteis nem sobre os desígnios de Deus. Aceitemos a nossa natureza única, que nos faz ser diferentes de qualquer outra pessoa, sem que por isto, percamos de vista a unidade essencial que nos mantém integrados não apenas à humanidade, mas a tudo que existe.

Sejamos capazes de aceitar o silêncio interior que nos é dado como uma graça, para poder viver em paz no meio do bombardeio diário de informações e de apelos de todo tipo. Cultivemos os dons que nos foram dados, para o bem nosso e dos demais.

sábado, 28 de dezembro de 2013

As flores param o tempo

Ontem à noite, passara algum tempo vendo imagens de flores na minha mente, ou na imaginação. Flores de amendoeira, de damasco, de retama. Rosas, gladiolos, lírios, verbenas, glisinas. Corais, margaridas, clarins de guerra, cravos. Flores que vira em distintos lugares. No campo, na montanha, em jardins das casas onde morei, ou por onde passei. Flores. As flores detém o tempo. Por razões que desconheço, as flores param o tempo. Se você reparar com bem muita atenção, se você olhar para as flores, poderá ver que em volta delas o tempo para.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Todas esas tardes

Todas esas tardes que pasaras frente al consultorio del dentista. Por esa misma calle, ayer a la tarde, cuando de nuevo pasaste, parecieron confluir de repente. La mirada poética reúne esos momentos únicos que te es dado vivir. Lo aparentemente banal o fugaz, es aprisionado en su singularidad. Las chicas hojeando las revistas en la sala de espera. Y tú ojeando a las chicas. Las escenas de las novelas de la TV pasando. Los obreros en la calle trabajando. Los autos estacionados. La casa de tortas allí cerca, a la vuelta de la esquina. Todo como que de pronto volvió ayer cuando pasabas otra vez por esa misma calle. Como un relámpago, una visión fugaz.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Guía interior

Esta mañana, cuando me levanté, sentí-vi unas líneas amarillas como yendo en la dirección de un agujero. Yo debía seguir por allí. Esto lo percibí de una manera que ahora no sabría como describir, pero que era muy nítida en ese momento y ahora también. Era cuestión de dejarse llevar por el día, por el movimiento de la vida. Más tarde, ví una púa bajando sobre un disco Long Play. De nuevo, era o es, una cuestión de ajuste, de momento justo, de ubicación. A la mañana, me dí cuenta de que había o hay, un orden en el día, en el tiempo, en la vida. Ese orden no es arbitrario, sino necesario, y obedece a algo más que a mis pensamentos, o a lo que creo que debería hacer. Está dado, está aquí, en mí y en el mundo. No prescinde de mi inteligencia, pero no se limita a mi pensamento normal o común. Es visual, y claro, interior y evidente. Lo de la púa y el disco tiene la misma connotación de una guía interior. Adecuación, encaje, inserción, sintonía.