quarta-feira, 18 de novembro de 2009

John Winston Lennon, Os Beatles

Pouca coisa poderia ser dita que não batesse no estereótipo. Algo gostaria, no entanto, de tentar dizer, a partir do visto em entrevista de Raimundo Fagner na televisão, dias atrás. Lembrava o compositor e cantor cearense, em moda nos tempos em que cheguei ao Brasil, como os Beatles influenciaram a sua vida. Contou que seu pai e seus irmãos disputavam o banheiro para cantarem em casa, e que ele mesmo aprendera sozinho a tocar violão, graças ao instrumento ganhado de padres salesianos que elaboravam tais tipos de objetos, na sua infância.

Escutando Fagner falar, vendo seu rosto e as suas expressões, lembrava de algo que ele dissera: I wanna hold your hand foi a canção que mais o impactou naquela época, na sua infância. Algo nele mudo para sempre ao ouvir essa música. Comigo, fora Twist and Shout. Lembro que quando ouvi pela primeira vez essa canção, estava no colégio interno. Um colega nosso, Ringo Tealdi, tocava bateria e algumas dessas canções eram ouvidas entre nós. Eu soube que eu era possível, que eu podia ser. Anos depois, já de volta em Mendoza, na minha cidade natal, os Beatles continuavam a tocar e a subir nas paradas de sucesso. Cada novo disco deles era como que um embalo para a vida.

Eram tempos difíceis. Anos de fatos que não devo lembrar. Fatos que marcaram a minha vida ao ponto de hoje, mais de 30 anos depois, não poder mais ouvir algumas palavras, sequer alusões a determinadas coisas. Mas não é para lembrar o que hoje não posso nem devo lembrar, e sim para lembrar o que me permitiu estar agora, nesta manhã de 31 de agosto de 2009, estar escrevendo estas coisas, e lembrando daqueles quatro cantores e músicos que tornaram possível a vida de gente como eu, espalhada aos milhares pelo mundo afora. Estados Unidos se prepara para instalar bases militares na Colômbia, repetindo fatos e situações que levaram a sentimentos que nunca mais devem se repetir na vida de ninguém.

É necessário que se reflita e em tempo se detenha essa iniciativa. Não é tempo disso, das coisas que os que passamos por aqueles anos, não podemos sequer evocar. É tempo de recordar o que deteve a escalada da violência naqueles e nestes tempos, e que os Beatles, de um modo ou de outro, estão sempre a recordar: Nothing you can do that can´t be done. Não há nada que possas fazer que não possa ser feito. Tudo que precisas é amor. All you need is love. Love, love, love. Qué pode superar o poder do amor. Nem crenças, nem instituições ou ideologias, nada pode ser maior ou mais forte do que o amor. E ele toca o coração de todas as pessoas. Nesta madrugada em eu estas linhas são escritas, quero recordar algo que também os Beatles e John Lennon nos lembram. O poder da paz, e aí a figura de Mahatma Gandhi é evocada, sem dúvida.

Paz e amor, bandeiras daqueles tempos e destes tempos, de todo tempo. Obrigado, John, obrigado, Paul, George, e sobre tudo Ringo. Obrigado por nos lembrarem, agora e sempre, de que há uma única revolução inadiável, uma que não envolve agressões a ninguém nem a nós mesmos, e que está únicamente nas nossas mãos, a revolução interior. Gandhi disse alguma vez, ter assumido a imensa tarefa de tentar mudar a única pessoa que ele poderia mudar, a sí mesmo. Os Beatles nos lembram da luz interior, a mudança de mente e coração, imprscindível para ver o outro e a outra pessoa como um semelhante. Não um igual que não somos produção em série, mas um semelhante, alguém em que, como em mim e nas folhas e nas estrelas, no brilho do sol e no mistério da vida, está manifesta a vontade desse ser a quem chamamos de Deus, a Divina Mãe, Pacha Mama, Inti, ou como possamos chamá-lo ou chamá-la.

Que mais do que de novas crenças, precisamos de novas experiências, como Gandhi fazia e os Beatles também fizeram e continuam a fazer, com a sua constante presença no mundo de hoje. Paz, amor. Não sei como possam a ti, leitor ou leitora, soar estas palavras. Não estou querendo convencer ninguém de nada. Apenas partilhar coisas que sinto que devo escrever nesta madrugada.