sábado, 21 de julho de 2012

Lagoa Seca 2012

Há umas experiências, umas vivências, que eu gosto de guardar o mais rápido possível. Isto é, como diziam Ray Bradbury e Julio Cortázar, escrever o mais rápidamente possível. Estou me referindo aos dias passados em Lagoa Seca, na formação em terapia comunitária do grupo de estudantes de enfermagem em saúde mental comunitária, e outros participantes de outros municípios. Ontem lembrava, ou foi hoje de manha, não sei, de algumas vistas desde o alto do Centro Marista de Eventos, onde foi realizada a atividade. Os muros marcados de tempo, as escadas apontando para o mais alto. Tudo parecia um símbolo, ou parece agora, na retrospectiva da memória. As conversas com cada um dos participantes, a maioria jovens. O que cada um, cada uma, deixou em mim. Ontem à tarde, já de volta em João Pessoa, vira as fotos do encontro na pizzaria de Campina Grande, e não pude deixar de sentir uma forte emoção. Lembrei do primeiro dia, na verdade, do encontro na primeira noite, no salão de mosaicos desenhados, que chamavam poderosamente a minha atenção. Cada um, cada uma, dizendo algo de si. O que foi que lhe trouxe aqui. As tardes passadas no quarto, a escrever. Ou na salinha ao lado da sala do curso, também a escrever, a perpetuar sonhos, conexões, tecendo redes. Agora já é o primeiro dia depois desta vivência tão intensa, onde me senti tão acolhido. Como estrangeiro, como argentino com já tantos anos de Brasil, no entanto, alguma coisa na gente falta embaixo dos pés. Não vim ao Brasil por outra necessidade a não ser a de viver. Tanta gente vinha para São Paulo pelo mesmo motivo, naqueles anos. Fugindo da seca no Nordeste. Eu fugia da morte que assolava a vida dos argentinos, a mercê dos mercenários do exército e das classes dominantes. Uma história que deixou marcas. Todas as histórias deixam marcas. E naquela noite, nessa primeira noite na roda em que começamos a nos conhecer melhor, pude falar algo desta minha vinda ao Brasil naqueles anos. Outras e outros contaram as suas histórias, e aos poucos foi se criando um clima de acolhimento, de pertencimento. Hoje já voltei da praia com a minha esposa e companheira, Maria, com quem pude ir resignificando a minha vinda ao Brasil, o fato de eu ter recebido tanto amor do lado de cá da fronteira. A gente vai vendo a sua história, vai se soltando de nós que ficaram amarrados no passado. Culpas, raivas. Vai ganhando outro sentido estar vivo, estar aqui. Eu estou convencido, porque a experiência tem me mostrado, que a Terapia Comunitária é uma ferramenta chave para a libertação das pessoas. A pessoa ganha fôlego, pode ver uma perspectiva de reconstrução da sua existência. Não mais está condenada por algo que aconteceu ou acontece. As perguntas que aprendemos a nos fazer a nós mesmos, vão abrindo um espaço dentro de nós. Cada uma das pessoas que vi nestes dias, e com quem partilhei de alguns momentos, deixou algo em mim. Algo bom. Uma esperança, alguma coisa de mito boa e positiva. Ter podido participar desta formação, foi uma coisa muito boa para mim, e estou muito agradecido a todos e todas que dela participaram. E especialmente agradecido a Adalberto Barreto, que criou esta metodologia de libertação da pessoa humana e de construção de uma sociedade mais justa e fraterna, com respeito às diferenças. Uma aposta total na vida. Sei que virão outras lembranças, mas quero partilhar logo as que estão chegando, as que estão mais vivas, esperando que outros e outras me façam chegar também as suas.

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