terça-feira, 9 de julho de 2013

Lições das águas

Essa manhã fora, como tantas outras vezes, ao auditório das Livrarias Paulinas. A cidade sob um céu cinza que, na hora da saída, transformou-se em um chovisco fino quase chuva. Andara no meio dos livros, olhando, refletindo, deixando a mente vagar. Imitação de Cristo, Assim falou Zarathustra, Padre Pio, Dom Helder Câmara. E nós aqui, nesta caminhada de formigas, como dizia Dom Fragoso. Trabalhos miúdos, quase imperceptíveis. A praça com o mandacaru. As palmeiras, a estátua. Os prédios oficiais em volta. As pessoas perambulando. O pedinte na porta da livraria. As lembranças. Tudo tinha um sabor de passado essa manhã. Depois o dia prosseguia. “Libertar a linguagem,” lera no livro de Júlio Cortázar a noite anterior. Libertar a linguagem. Deixar que a palavra se faça verbo. Tornar-se verbo, como dizia o Pe. José Comblin. Essa manhã, a lembrança do velho amigo veio mais forte. Onde andaria, onde vamos quando morremos? Ninguém sabe. Ninguém veio para contar. Lembrara de tantas belas palavras lidas em tantos livros. Formando como um quebra-cabeças infinito. E tú no meio, vais te montando e desmontando, no ritmo da vida. Viver para amar uma mulher. Viver no amor de uma mulher. Pode haver coisa mais bela? Tudo é tão frágil. Te deixas levar, como água que flui pela terra, no entanto, também tens que tentar dar um rumo aqui e ali. Não é só se deixar levar. Está também a tua vontade. Te deixas levar e remas. Remas e te deixas levar. Lições das águas.

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