quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Escrevo para

Quando o escrever incomoda? Quando o que escrevo incomoda? Não tenho tentado, ao escrever, atacar ninguém, nem agredir alguma ideologia ou modo de ser ou de pensar. Nem mesmo quando me refiro ao capitalismo como um sistema perverso ou negativo, o faço desde um ponto de vista da luta pela destruição deste sistema daninho. Quando critico o capitalismo ou algum comportamento, não o faço com a finalidade de destruir alguma coisa. Não nego, no entanto, que sonho com ver um dia chegar em que não existam mais fronteiras, controles migratórios, exércitos, violência, guerra. Mas o que quero dizer, o tom geral desta conversa, é que eu escrevo sempre com uma intenção construtiva. Mesmo quando tenho escrito algo em contra de certas formas de pensar ou de agir, ou de alguma instituição, não o faço com uma intenção destrutiva e, sim, por estar empenhado, pessoal e coletivamente, na construção de formas de ser, pensar, sentir e agir baseadas no amor, no mais profundo respeito pela vida. Tudo isto é para dizer que estou tentando passar a limpo este meu oficio de escrever. De tanto escrever, em algum momento a pessoa chega a uma espécie de território indefinível, em que a realidade que escreve e a que vive, estão fundidas, são uma só. Este processo em que me encontro, este instante original, são algo de muito precioso. É como uma reversão do tempo. É como se o seu passado e o seu presente, a sua vida toda, tivessem voltado a ser o que são, o que foram. Tempo unificado. É claro que isto não teria ocorrido, a não ser a través de um diálogo construtivo e criativo com pessoas que me foram lendo, e, que ao me lerem, foram me dando a oportunidade de que eu mesmo fosse me lendo de maneira nova. Assim fui renascendo, fui voltando, como sigo voltando, a ser quem eu sou. Neste diálogo construtivo em que fui e continuo sendo cada vez mais o ser que sou, tiveram e tem um papel fundamental, algumas pessoas. Várias delas, muitas delas, terapeutas comunitários, ou pessoas ligadas a esta área de atuação. Outras, alguns amigos e pessoas da família, que foram vendo que o que vinha, que o que estava vindo, era eu mesmo. Este que agora escreve estas coisas, e que era cada vez mais, outra coisa, não uma coisa adulterada, falseada, falsificada, e sim algo genuíno, algo novo, algo verdadeiro. Por isto, e já vou chegando ao fim destas linhas, digo que escrevo para me ter de volta. Escrevo para ser cada vez mais a pessoa que sou. Devo agradecer e agradeço a todas essas pessoas que me foram ajudando a voltar. Algumas já não se encontram mais no plano físico da existência, mas estão comigo nesta caminhada. A todas e a todos, obrigado. Escrevo para ser, e escrevo para que, em eu sendo cada vez mais quem sou, outros e outras sejam cada vez mais, eles mesmos, elas mesmas.

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