quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Conversando

A partir do momento em que comecei a escrever e a colaborar em meios digitais, lá pelo ano de 2001, comecei a perceber o enorme efeito terapêutico deste ato tão simples e tão significativo, o ato de se comunicar, o ato de partilhar o que vamos vendo e percebendo. As lições que pude ir aprendendo nesta empreitada, continuam a se mostrar, e continuo achando que seja uma tarefa proveitosa, a de seguir partilhando neste cara a cara às vezes distante, às vezes presencial com as leitoras e leitores, o que vou aprendendo. De longe, o efeito mais benéfico deste ato de escrever e partilhar, é o de ir trazendo para minha própria consciência, a vida tal como a experimento. Não a vida pensada, mas a vida vivida. O exercício de escrever e partilhar, traz como consequência a emergência de um viver mais autêntico e verdadeiro, o retorno de um estado infantil e puro de existir. Isto é muito prazeiroso, porque embora os anos tenham passado, é como se estivessemos indo na contramão da cronologia, cada vez mais jovens por dentro. Posso dizer com toda franqueza, que esta atividade que estou praticando de maneira continuada desde o ano de 2001, foi me trazendo frutos tão agradáveis, que a minha própria vida foi chegando a um estado de integração em que me encontro hoje. É como se o mundo em que vivo, meu dia a dia, tivesse sido moldado com as minhas próprias mãos. Cada vez vivo mais no meu próprio mundo, um mundo que tem a minha cara. Mas isto somente é possível porque tenho praticado o diálogo com um sem número de pessoas com as quais pude ir conversando sobre o que escrevo. Se hoje vivo em um mundo mais humanizado, é porque fui me tornando mais permeável ao que os demais pensam e sentem acerca do que escrevo. Desta forma, esta atividade que é muito solitária em alguns sentidos, foi se tornando cada vez mais social, cada vez mais coletiva, mais comunitária. Sinto que o mundo em que vivo hoje é mais integrado, ou eu me integrei mais no mundo. Isto é muito bom porque é como se progressivamente estivesse chegando ou às vezes estivesse habitando plenamente em uma realidade que as palavras difícilmente conseguem descrever, e sobre a qual posso dizer apenas que é como se fosse a terra prometida. Lembro então muitas vezes das palavras do padre José Comblin, com quem tive o privilégio de conviver por um curto tempo: “a terra prometida estava no seu próprio coração.” As últimas palavras que escutei dele, dirigidas a mim, foram estas: “seja fecundo na sua literatura”. Era em João Pessoa, Paraíba, Brasil. Hoje me encontro em Mendoza, Argentina, o lugar onde nasci. E sinto como se o tempo ao meu redor tivesse se compactado. Nada disto teria sido possível em solidão. É fruto do crescimento que o diálogo possibilita. O diálogo nos humaniza, nos faz gente.

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