sábado, 8 de outubro de 2016

Ser letra

Voltar para casa já de noite, após um passeio pela beira-mar com um velho amigo. Ver a lua no céu, redonda, entre as nuvens. A lua no mar. Lua no céu. Mar. Encontrar um velho amigo é como se re-encontrar com já tantas vezes que nos temos encontrado, em tantos lugares, de tantas maneiras. Saber que a dor de não pertencer é a dor das mais doídas que pode haver. Ser uma letra que se escreve e se lê, no meio das letras que formam a escrita total da vida e do tempo. Vir para cá, a estas horas, sabendo ser este o teu lugar. O lugar onde te recolhes, te reúnes, te re-encontras com cada um dos instantes do dia e de todos os dias. Vida reunida. Testemunhar todos os desencontros e desconfigurações pelos que passaste, neste dia e em muitos outros dias, ao longo da vida. Ver como dentro de ti se reorganiza o dicionário interior. As palavras ecoam, ressoam, formam giros que giram e dão voltas e te dizem coisas. Escutas, te escutas. Escutas o mundo e a ti. Vida. Mundo. Leitura escrita.

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