Um certo grupo de cristãos um tanto esquisito costumava se reunir, em clima de fraternal convivência, nas dependências do Programa de Posgraduação da Universidade Federal da Paraiba. A pesar das divergências entre si, costumavam se debruçar, com elogiável dedicação, sobre o estudo dos textos sagrados do cristianismo, não faltando, contudo, freqüentes referências fraternais a outras vertentes da religiosidade humana. Certa vez, entretanto, ocorrera fato destoante desse clima pacífico e colaborativo entre os irmãos. Um deles, parecendo um profeta, não poucas vezes, embora por sorte raramente, já que nem sempre participava das reuniões do grupo, costumava intervir de modo intempestivo, sem se importar com quem estivesse falando ou com o que estivesse sendo dito. Outros, não menos estranhos, incluíam um teólogo suspeito, oriundo de igreja, que deliciava os irmãos com a sua voz pausada e doce, não poucas vezes aclarando pontos obscuros no entendimento da Palavra de Deus; um outro dissidente do catolicismo, conhecido por persistente ação desprivatizante da ação do Espírito no mundo, frequentemente visto em diversas campanhas e mobilizações sociais, bem como em encontros de educação, filologia, história e poesia medieval, repentismo, freireanismo, e outros ismos com os que não pretendemos cansar os leitores e leitoras. Outro, ainda, conhecido pela militância subversiva nos anos de chumbo, o que lhe rendera prisão pela mão dos generais dos anos 60, insistia, não poucas vezes, em aspectos da religiosidade prática, trazendo a atenção dos irmãos para a ação, nem tanto a teoria ou a teologia, que, no entanto, respeitava. Mais um, para completar a galeria de raridades e esquisitices, dizia ser filósofo e educador, e deliciava o grupo com charadas e provocações que traziam alegria a todos, insistindo no holismo, na filosofia oriental, da qual era profundo conhecedor, se caracterizando por neologismos como Senhor Mãe, com que costumava chamar o Criador ou a Criadora do Universo, de todas as coisas. Por último, mas não menos importante, last, not least, como dizem que dizem os ingleses, um certo aposentado, como os anteriores, pertencente à Pastoral dos Aposentados, também sociólogo e não teólogo, como deveria ou poderia se esperar que fosse num grupo desta natureza. Este último ser, a quem inútilmente poderia se tentar catalogar em alguma categoria do real, se aprazia em contradizer sistematicamente toda tentativa de sistematização, se é que me entendes. Ou seja, fazia tudo por manter o caráter anárquico do grupo, a liberdade que não poucas vezes ameaçava, como no fato que vamos narrar, a paz do grupo. Desta vez, uma senhora, amiga de um dos irmãos, chegara em momentos em que se ouvia o embate de espadas na sala, coisa rara, mas assim era. Som de metal, gritos, ora em inglês, ora em espanhol, e vozes em português chamando à cordura. A convidada, supresa, se detivera na porta da sala da Posgraduação em Educação, local de reunião, como já foi dito, do referido grupo estranho de cristãos ecumênicos. Pois não era esse o motivo da luta?
--Eu são católico e você não é.
--Isso é o que você pensa, eu sou mais católico que você.
--Como assim? Não entendi e não gostei (pausa na batalha)
--Sob a ótica do todo, isso significa católico.
--E é, é?
--É, sim.
--Tem certeza?
--Ô se tenho. Então, mal que possa soar a alguns, somos todos católicos e fim de papo.
Após estes acontecimentos, ocorridos em um tempo de que não se tem registro, o grupo continuou como sempre, se encontrando em clima de união e paz. Tenho dito. É isto.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
domingo, 13 de setembro de 2009
Uns passarinhos, hoje
Uns passarinhos fizeram ninho no fícus esta manhã. Pude ver eles, eram dois, um casalzinho, trazendo palhas que ajeitavam no meio dos galhos, em forma de bola. Não fiz barulho para não os afastar. Uma alegria me invadiu. Era bom. Mais tarde, um momento de oração no Centro João XXIII, missa concelebrada, como na casa que fora de Dom Fragoso. De tarde, encontro familiar na Cidade Verde. Favas, cerveja. Tudo era um. A conversa com papai de manhã, os Rolling Stones agora, tu que me lês, não sei onde estas, e os passarinhos hão de estar, de algum modo, velando este dia que termina. Um menino doentinho nos braços da mãe eu o adotara sabendo-o doente. Jesus, essa luz, outra vez, sempre. Obrigado.
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terça-feira, 8 de setembro de 2009
Soy escritor
--Cuando me di cuenta de que yo debería empezar a conocerme, todo empezó a mejorar
--A ver, cómo es eso, contame.
--Por ejemplo, yo soy una persona que piensa muchas cosas al mismo tiempo y también soy indeciso, entre otros rasgos de personalidad.
--¿Y entonces? No entiendo adónde querés llegar.
--Yo soy escritor, antes que cualquier otra cosa.
--¿Y?
--Entonces, si es así, escribo antes que nada, ¿te das cuenta? Yo antes, pensaba que era esto, aquello, lo de más allá, y trataba de juzgarme según parámetros ajenos. Ahora sé que mi mentalidad, mi modo de ser, lo que siento, lo que veo, lo que pienso, soy yo. todo lo que soy, soy yo mismo, yo soy eso, ¿te das cuenta?
--Dale con el te das cuenta, no sé si me explico, no podés hablar sin poner el te das cuenta, ¿te das cuenta?
--Es muy lindo, ahora sé que soy escritor, y que no tengo por qué tratar de parecerme con quien sea, ¿te fijás? No tengo que copiar más a nadie, ¿te das cuenta? Tengo que ser yo mismo y se acabo Y ser yo mismo no da trabajo es muy lindo e involucra aceptarme tal cual soy, ¿te das cuenta?
--Más vale, seguro, qué bueno que te diste cuenta a tiempo, ¿te das cuenta? Debía ser muy malo no aceptarse como uno es, ¿no es?
--Vivía juzgándome según parámetros ajenos, según lo que los demás pensaban de mí mismo, ¿te das cuenta?.
--Y tuviste que empezar con el portuñol, por qué no hablás derecho con el castellano?
--Y por qué decís derecho, ¿no se dice directo?
--Lo que sea, yo también soy el que soy y hablo como se me dá la gana, que tanto.
--Así me gusta, cada uno es el que es, y no el que los otros piensan que debe ser. Hoy, por ejemplo, me puse a escribir esto antes de hacer cualquier otra cosa, pues supe ser de primordial importancia. Y tanto es así, que no me equivoqué. Era más importante yo tener claridad sobre lo que soy, que hacer cualquier otra cosa
--Es así, te felicito, por ser quien sos.
--A ver, cómo es eso, contame.
--Por ejemplo, yo soy una persona que piensa muchas cosas al mismo tiempo y también soy indeciso, entre otros rasgos de personalidad.
--¿Y entonces? No entiendo adónde querés llegar.
--Yo soy escritor, antes que cualquier otra cosa.
--¿Y?
--Entonces, si es así, escribo antes que nada, ¿te das cuenta? Yo antes, pensaba que era esto, aquello, lo de más allá, y trataba de juzgarme según parámetros ajenos. Ahora sé que mi mentalidad, mi modo de ser, lo que siento, lo que veo, lo que pienso, soy yo. todo lo que soy, soy yo mismo, yo soy eso, ¿te das cuenta?
--Dale con el te das cuenta, no sé si me explico, no podés hablar sin poner el te das cuenta, ¿te das cuenta?
--Es muy lindo, ahora sé que soy escritor, y que no tengo por qué tratar de parecerme con quien sea, ¿te fijás? No tengo que copiar más a nadie, ¿te das cuenta? Tengo que ser yo mismo y se acabo Y ser yo mismo no da trabajo es muy lindo e involucra aceptarme tal cual soy, ¿te das cuenta?
--Más vale, seguro, qué bueno que te diste cuenta a tiempo, ¿te das cuenta? Debía ser muy malo no aceptarse como uno es, ¿no es?
--Vivía juzgándome según parámetros ajenos, según lo que los demás pensaban de mí mismo, ¿te das cuenta?.
--Y tuviste que empezar con el portuñol, por qué no hablás derecho con el castellano?
--Y por qué decís derecho, ¿no se dice directo?
--Lo que sea, yo también soy el que soy y hablo como se me dá la gana, que tanto.
--Así me gusta, cada uno es el que es, y no el que los otros piensan que debe ser. Hoy, por ejemplo, me puse a escribir esto antes de hacer cualquier otra cosa, pues supe ser de primordial importancia. Y tanto es así, que no me equivoqué. Era más importante yo tener claridad sobre lo que soy, que hacer cualquier otra cosa
--Es así, te felicito, por ser quien sos.
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Sol vermelho
Que diria desse dia?
Caminhara pela praia de manhã cedo e vira um sol vermelho
Mais tarde, um sol branco, crianças na areia, gente andando e nadando, sentada
Caminhara com a sua namorada e sentira o sol e o vento, a água
Agora escrevia estas palavras
Lera Quincas Borba e se admirara da arte de Machado de Assis
7/7/2009
Caminhara pela praia de manhã cedo e vira um sol vermelho
Mais tarde, um sol branco, crianças na areia, gente andando e nadando, sentada
Caminhara com a sua namorada e sentira o sol e o vento, a água
Agora escrevia estas palavras
Lera Quincas Borba e se admirara da arte de Machado de Assis
7/7/2009
domingo, 6 de setembro de 2009
Livros são lugares
Muitas vezes, quando penso num livro ou folheio algum dos que já li, não estou querendo apenas ler o livro, mas ir ao lugar aonde ele me leva. Não sei se entendes isto, mas se gostas de leitura, sabes do que estou falando. Agora estou lendo A Senhora Cornélia, de Cervantes, e o livro me leva a lugares que achei em Machado de Assis, em A mão e a luva. Quando penso em Bécquer, Rimas, vou à lira no canto da sala esquecida, esperando a mão que lhe diga como a Lázaro, levanta-te e anda. Se penso nas Crônicas marcianas ou na Cidade perdida de Marte, de Bradbury, ou A cidade e as estrelas, de Azimov, revivo, no primeiro caso, o sentido ao ler o livro, e, no segundo, o instante em que o comprei em São Paulo, na Avenida Paulista, quando estudava na escola de Sociologia e Política. Lembro que o livro tinha falha e voltei para reclamar. E a história de Alvin, o único numa humanidade programada, lida em casa, me fascinou. Assim é com outros livros, como já disse em escrito sobre este assunto. Livros são lugares.
O mundo é uma canção Beatle
Quando vi a capa de Sgt Peppers não podia acreditar no que via. John, Paul, George e Ringo, os Beatles, vestidos de farda militar, cada uma de uma cor, uma verde, outra vermelha, outra azul e uma outra amarela. Sorrindo, com aquele olhar bondoso e sereno, alegre, que ainda guardo na minha memória, depois de tantos anos. Era como que estivessem dizendo, está tudo bem. Não se preocupem que isto também vai passar. Isto racionalizo agora, na hora apenas me alegrei com uma alegria que o tempo não apagou.
Hoje pensava em algo que já disse em outro escrito, mas que desta vez veio com mais clareza. Há uma canção Beatle para cada momento. Quando acordo, é Good morning, good morning, e aquele cantarolar de galos na madrugada anunciando o dia que chega. Enseguida, Mr. Postman, o carteiro trazendo boas notícias. Já mais tarde, o sol chega, Here comes the sun. E pela tarde afora, para onde você for, é Michelle, Girl, She loves you, Mr Moonlight, The Inner Light, Sumbarino Amarelo, She´s a woman, Kansas City, Chains, Boys, Misery, Can´t buy me love, Dear Prudence, Blackbird.
A vida é uma canção Beatle, não é verdade? É, sim, ó se é, é mesmo.
Hoje pensava em algo que já disse em outro escrito, mas que desta vez veio com mais clareza. Há uma canção Beatle para cada momento. Quando acordo, é Good morning, good morning, e aquele cantarolar de galos na madrugada anunciando o dia que chega. Enseguida, Mr. Postman, o carteiro trazendo boas notícias. Já mais tarde, o sol chega, Here comes the sun. E pela tarde afora, para onde você for, é Michelle, Girl, She loves you, Mr Moonlight, The Inner Light, Sumbarino Amarelo, She´s a woman, Kansas City, Chains, Boys, Misery, Can´t buy me love, Dear Prudence, Blackbird.
A vida é uma canção Beatle, não é verdade? É, sim, ó se é, é mesmo.
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quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Perspectiva
Tem horas que tiraria férias de mim mesmo, como que iria para outro planeta, Júpiter, Saturno, ou a lua, tão aqui, Marte, não sei, para me olhar e ver a minha própria vida desde outra perspectiva. Ver este escritor que escreve neste momento, neste teclado na Rua da Mata, na praia de Cabo Branco de João Pessoa. Ver como se vê da distância, os atos, a vida, os ires e vires, o ser Rolando Lazarte lá de cima.
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