terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Realidade literária

Aquela tarde, passara um tempo que não pôde ser medido com relógio, conversando com uma muito querida amiga, acerca de literatura. Lembrava de ter ouvido um comentário sobre um livro de Dostoievski, Noites Brancas, acerca de uma personagem que lhe despertara o interesse. Lembrava de ter conversando com esta pessoa tão querida, e enquanto conversavam, o tempo ia escoando como por uma ampulheta, lenta e continuamente. Lembrava de ter recordado o quanto o mergulho na leitura das obras de Cronin, lhe fora benéfico, em anos de profundas dores internas e externas. Compreendia, então, cada vez mais, outros sentidos mais profundos e completos, daquela frase de Julio Cortázar que tanto meditara desde os últimos dias de novembro, prévio à viagem para São Paulo para comemorar com seus irmãos e família, o aniversário de Arturo. A frase dizia mais ou menos assim: que a literatura destrói a falsa objetividade criada pelo intelectualismo. Não sabia se era uma frase textual, mas não importava. Nas suas meditações, e em conversas como esta daquela tarde de dezembro, com aquela amiga tão querida, em que o temo escoava como criando uma realidade fora da cotidianidade e ao mesmo tempo tão real, percebera que a realidade literária é, de fato, muito mais real do que a falsa objetividade criada pelo intelectualismo. E qué falsa realidade é essa? A de que existe um mundo objetivo, um mundo de coisas, e que você é uma coisa e eu sou uma coisa, e de que tudo são coisas. A verdade é que criamos o mundo em que existimos. O mundo é uma criação nossa. E a doença intelectualista, a alienação intelectualista, é a que rouba a realidade e põe no seu lugar uma cópia, algo estranho e invertido. Você já não é mais você, mas algo que alguém lhe convenceu que você era, e não é nada bom, é o contrário da sua realidade mais profunda. Por isso a frase de Cortázar cada vez mais me vai revelando que a vida é uma criação subjetiva, é feita por cada pessoa. Isto é uma verdade radical. É o que Jesus disse.

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