A sombra do nazismo sobre o país
A indústria da desumanização em andamento
Não vou desistir e a minha maneira de resistir é insistir no
trabalho cotidiano por me tornar cada vez mais eu mesmo, não me deixar apagar
pela onda de desvanecimento da pessoa que nos envolve.
Olho para mim e vejo a soma dos atos que me constitui, a
reunião de esforços acumulados ao longo dos anos, que deu como resultado esta
unidade que sou. Eu não sou uma pessoa genérica, mas sim uma pessoa singular,
particular.
Não existem pessoas genéricas, não há algo como uma
humanidade genérica. As pessoas são concretas, ou podem vir a ser desde que arregacem
as mangas e se disponham a esta tarefa. Não existe uma humanidade em geral, mas
humanidade específica e concreta.
Querem varrer a história e a filosofia, a educação e a
sociologia, a pedagogia da libertação e a arte. Tudo que nos faz humanos é tão
precioso como a própria vida. A vida é a arte. A arte suprema é o sobreviver às
pressões desumanizadoras.
Tratam de apagar os nossos contornos, desde a TV e desde as
redes sociais, desde o poder e desde as empresas e igrejas domesticadoras. Eu
não sou isso, eu vou morrer como sou, vou morrer a pessoa que sou, não a que
querem que eu seja. Assim, decido viver a pessoa que sou.
Ontem na sala de espera da dentista, a TV propagando a sua
mensagem de morte e medo. Família chacinada encontrada na mala de um carro. Criança
envenenada numa escola. Tive que pedir para a atendente tirar essa pregação de
cima de mim.
É tão natural nos deixarmos morrer. O que foi que fizemos de
nós mesmos/as? Aonde foi parar a nossa humanidade? O que é que ficou do ser que
somos, ou que poderíamos ser? Eu não vou desistir. Vou insistir sempre com o
mesmo: o ser não têm preço, não se vende.
Sobrevivi até agora, e vou prosseguir. E a minha
sobrevivência está assentada em tarefas pessoais e comunitárias. Construção e
fortalecimento de vínculos pessoais saudáveis. Reforço e recuperação da
auto-estima. Fortalecimento do sentido da vida pela arte.
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