segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Reintegração pela leitura

Há alguns livros que nos incluem de uma forma que chega a ser surpreendente, mesmo, que a gente esteja do lado de cá, diante da página, e do lado de lá (mas onde, como) uma história que fala de nós, ou, melhor dito, na qual nos vemos refletidos a um ponto admirável, verdadeiramente assombroso. Sempre admirei os autores e autoras que fizeram isto comigo como leitor. Que me levaram para mundos tão meus, que nem eu mesmo os conhecia, até os ver lidos, escritos, nas páginas de um livro. Esses autores e autoras e seus livros, me acolheram de tal forma durante a minha vida, e isto começa a se repetir novamente nesta outra fase da minha vida, a atual, que não posso menos que expressar a minha perplexidade. Como isto é possível, e não é uma expressão que busque uma explicação, mas apenas uma forma de partilhar o assombro. Últimamente, isto tem me acontecido de maneira muito forte, com um livro de Henry James, A fera na selva, e com um outro, de Marcel Proust, No caminho de Swann. O mais interessante é que ao ler estes livros, bem como um outro de Henry James, A outra volta do parafuso, foi como se fosse se montando o quebra-cabeças total da minha vida no mundo da leitura. Ao ler No caminho de Swann, hoje de manhã, no sofá da sala, não pude menos que me admirar, como já disse e repito. O autor estava falado de mim. Ele, a quem supostamente não conheço, falava de alguém que tinha do mundo e de si mesmo, sensações, sentimentos e pensamentos, que são meus. Não parecidos ou aproximados, e sim idênticos. Lembrei de certa vez que Jorge Luis Borges, o grande escritor e poeta argentino, se desculpara para com os seus leitores, no sentido de que se encontrassem no seu livro algum poema que merecesse apreço, esse poema tivesse sido escrito por Borges e não pelos seus leitores ou leitoras. No seu conto "Axolotl," Julio Cortázar, o genial autor de Histórias de Cronópios e de Famas, descreve alguém que olha um peixe a través do vidro de um aquário. De tanto olhar para o peixe, acaba se tornando o próprio peixe, vê a si mesmo desde o interior do aquário. Algo assim sinto que sucede ao ler um destes livros que me refletem totalmente. Livros que me foram incluindo de tal forma, que fui ao lê-los, tendo mais noção de mim mesmo, perdendo a estranha estranheza que me acompanha desde que me conheço por gente.

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